Recomendações para o combate à COVID-19 nos edifícios de serviços

HomeRecomendações para o combate à COVID-19 nos edifícios de serviços

Com base no Guia para prevenir a propagação do novo coronavírus em edifícios lançado pela REHVA – Federação Europeia das Associações de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado -, importa olhar para estas medidas e sugestões e entendê-las naquilo que é o seu enquadramento com a realidade atual e naquilo que são as boas práticas na atividade da engenharia e do AVAC. Esta tradução/análise tem como objetivo informar e esclarecer sobre uma série de dúvidas que estão a ser colocadas, bem como contribuir para as melhores decisões dos gestores de edifícios neste momento.

 

  1. Aumentar os caudais de ar novo e caudais de ar de exaustão

Em edifícios com sistemas de ventilação mecânica, é recomendado aumentar o tempo de operação destes sistemas. Devem alterar-se os temporizadores para iniciar a ventilação algumas horas antes do período de ocupação e desligá-la mais tarde do que o habitual. A melhor solução é mesmo manter a ventilação ligada em contínuo possivelmente com caudais de ventilação reduzidos (mas não desligada) quando as pessoas estão ausentes.

Tendo em conta que estamos a entrar na primavera e com menos ocupação as necessidades de aquecimento e arrefecimento são reduzidas, pelo que o aumento da ventilação não irá penalizar muito a utilização de energia, enquanto ajuda a remover as partículas de vírus libertadas das superfícies e dos edifícios.

O foco deve ser o aumento da quantidade de ar novo fornecida por pessoa. A redução do número de ocupantes é um aspeto positivo se não se baixarem os caudais de ar novo e desde que se amplie o distanciamento social entre os ocupantes, a fim de promover a eficácia da ventilação.

Em instalações em que a admissão de ar novo é controlada pela concentração de dióxido de carbono, os sistemas de controlo devem ser inibidos de forma a obter o caudal máximo de ar novo. 

Os sistemas de ventilação de exaustão das casas-de-banho devem ser mantidos em funcionamento contínuo, de modo a que estes locais permaneçam em depressão relativamente aos espaços adjacentes, especialmente para evitar a transmissão fecal-oral.

 

  1. Abrir mais vezes as janelas para um melhor arejamento

Os espaços superlotados e mal ventilados não devem ser permitidos, nomeadamente nos refeitórios e bares de apoio. A distância social e a boa ventilação destes espaços são fundamentais para evitar a disseminação da Covid-19.  

Em espaços sem sistemas de ventilação mecânica, devem abrir-se as janelas muito mais vezes do que o normal – mesmo que isso cause algum desconforto térmico (proteger-se com o vestuário). A abertura das janelas é a única maneira de aumentar a renovação do ar viciado. Devem abrir-se as janelas dos espaços durante, pelo menos, 15 minutos antes de serem ocupados (especialmente quando estiveram ocupados por pessoas diferentes).

Em espaços com ventilação mecânica, a abertura de janelas pode ser usada para aumentar ainda mais a ventilação.

Em edifícios com ventilação natural ou com sistemas de exaustão mecânica nas casas-de-banho, as janelas destas não devem ser abertas, uma vez que podem causar um caudal de ar contaminado das casas-de-banho para os outros espaços, funcionando a ventilação no sentido inverso. Se não houver ventilação adequada de casas-de-banho e a abertura de janelas não puder ser evitada, é importante manter as janelas abertas também em outros espaços, a fim de alcançar fluxos cruzados por todo o edifício.

 

  1. A humidificação e o ar condicionado não têm efeito prático sobre o vírus

A transmissão de alguns vírus em edifícios pode ser limitada pela mudança da temperatura do ar e dos níveis de humidade. No caso da COVID-19, infelizmente, isso não é uma opção, pois o vírus SARS-CoV-2 é bastante resistente às mudanças ambientais e é suscetível apenas a humidades relativas muito altas, acima de 80 %, e temperaturas acima de 30.°C, que não são possíveis nem aceitáveis em edifícios por outras razões (por exemplo, conforto térmico). Pequenas gotículas entre os 0,5 e os 10 mícron evaporar-se-ão rapidamente em qualquer nível de humidade relativa. O nariz e as membranas mucosas são mais sensíveis a infecções se a humidade relativa for muito baixa, 10-20 %, e esta é a razão pela qual alguma humidificação no inverno é às vezes sugerida (até um nível de cerca de 30 %). Esta necessidade indireta de humidificação, no caso da COVID-19, não é relevante, no entanto, dadas as condições climáticas que iremos ter (a partir de Março), esperam-se humidades relativas no interior dos espaços superiores a 30 % em todos os climas europeus sem humidificação. Assim, não há necessidade de alterar os set points dos sistemas de humidificação. De qualquer modo, nesta altura do ano, estes sistemas já não devem estar em funcionamento.

Os teores ótimos de humidade não são consensuais, mas, quando a humidade é mais alta, as gotículas lançadas pelos espirros e tosse ficam mais pesadas e caiem para as superfícies onde são mais fáceis de controlar. Também, como o documento refere, o ar seco tende a secar as membranas mucosas do sistema respiratório superior onde se depositam as partículas nocivas antes de chegarem aos pulmões, pelo que respirar ar seco torna as pessoas mais suscetíveis a infeções virais. Além disso, alguns, mas nem todos os vírus e micro-organismos, aumentam as taxas de sobrevivência com humidade relativa baixa. Assim, a nossa opinião é que se deve procurar manter os valores da humidade relativa entre os 40 e 50 %.

Os sistemas de aquecimento e arrefecimento podem funcionar normalmente, pois não há implicações diretas na disseminação da COVID-19. Também não se justifica qualquer ajuste de set points para sistemas de aquecimento ou arrefecimento.

Isto aplica-se a instalações com unidades de tratamento de ar, já que a utilização de ventiloconventores e splits promovem a recirculação do ar e devem ser condicionados como veremos adiante. 

 

  1. Utilização segura da recuperação de calor 

Em certas condições, partículas de vírus no ar exaurido podem reentrar nos edifícios.

Os dispositivos de recuperação de calor podem transportar vírus ligados a partículas do lado do ar de retorno para o lado de alimentação do ar novo.

Em permutadores de calor rotativos (incluindo rodas entálpicas), as partículas são depositadas no lado do ar de retorno da superfície da roda e podem ser ressuspensas quando esta superfície se volta para o lado do ar de insuflação. Por isso, recomenda-se (temporariamente) desligar os permutadores de calor rotativos durante os episódios SARS-CoV-2.

No caso de recuperadores de fluxos cruzados, se houver suspeita de vazamentos, o ajuste da pressão ou a actuação do sistema de bypass podem ser uma opção para evitar uma situação em que uma pressão maior no lado do retorno causará fugas de ar e partículas para o lado da insuflação.

No caso de recuperadores de calor com baterias separadas a transmissão de partículas não existe, visto que é garantida a separação do ar entre o retorno e a insuflação.

Só a recuperação de calor através de baterias separadas garante que não há contaminação do ar novo pelo ar de retorno.

 

  1. Não deve ser utilizada a recirculação de ar

As partículas de vírus nas condutas de retorno também podem reentrar nos edifícios quando as unidades de tratamento de ar possuem secções de recirculação. Recomenda-se evitar a recirculação durante os episódios de SARS-CoV-2: feche os registos de recirculação (via GTC ou manualmente).

Caso isso levante problemas de capacidade de arrefecimento ou aquecimento, isso tem que ser aceite porque é mais importante prevenir a contaminação e proteger a saúde pública do que garantir o conforto térmico. Às vezes, as unidades de tratamento de ar e as seções de recirculação são equipadas com filtros de ar de retorno. Isso não deve ser uma razão para manter os registos de recirculação abertos, pois esses filtros normalmente não filtram partículas com vírus de forma eficaz.

Quando possível, sistemas individuais, como unidades de recirculação local, também devem ser desligados para evitar a ressuspensão de partículas de vírus a nível de sala (especialmente quando os espaços são usados normalmente por mais de um ocupante). Se não for possível desligar, essas unidades devem ser incluídas em campanhas de limpeza dos espaços, pois podem acumular partículas como qualquer outra superfície.

 

  1. A limpeza de condutas não tem qualquer efeito prático sobre o vírus

Tem havido declarações recomendando a limpeza das condutas para evitar a transmissão de SARS-CoV-2 através de sistemas de ventilação. A limpeza das condutas não é eficaz contra infeção espaço a espaço, porque o sistema de ventilação não constituirá uma fonte de contaminação se as orientações sobre recuperação de calor e recirculação de ar forem seguidas. Os vírus ligados a pequenas partículas não se depositarão facilmente nas condutas de ventilação e normalmente serão transportados para o exterior pelo fluxo de ar. Portanto, não são necessárias alterações nos procedimentos normais de limpeza e manutenção das condutas. Muito mais importante é aumentar os caudais de ar novo e evitar as recirculações de ar de acordo com as recomendações acima referidas.

 

 

  1. A mudança de filtros de ar novo não é necessária 

No contexto da COVID-19, foi colocada a questão da substituição dos filtros e do efeito de proteção em ocasiões muito raras de contaminação por vírus no ar exterior, por exemplo, se as exaustões de ar estiverem próximas das admissões de ar novo.

Os modernos sistemas de ventilação (unidades de tratamento de ar) são equipados na admissão de ar novo com filtros de ar de partículas finas (classe F7 ou F8 ou ISO ePM1) que filtram bem o material particulado do ar exterior. O tamanho de uma partícula coronavírus de 80-160nm (PM0.1) é menor do que a área de captura de filtros F8 (eficiência de captura 65-90 % para partículas 10 vezes maiores – PM1), no entanto muitas dessas pequenas partículas podem ficar retidas nas fibras do filtro pelo mecanismo de difusão. As partículas SARS-CoV-2 também se agregam com partículas maiores que já estão dentro da área de captura dos filtros. Isso implica que, em casos raros de ar exterior contaminado por vírus, os filtros fornecem uma proteção razoável para uma baixa e ocasional concentração de vírus no ar exterior.

Do ponto de vista da substituição do filtro, podem ser utilizados procedimentos normais de manutenção. Os filtros colmatados não são uma fonte de contaminação neste contexto, mas reduzem os caudais de ar novo, o que tem um efeito negativo sobre as próprias contaminações internas. Assim, os filtros devem ser substituídos de acordo com o procedimento normal quando a pressão ou os prazos forem excedidos, ou de acordo com a manutenção programada. Em conclusão, não recomendamos a alteração dos filtros de ar exterior existentes, nem a sua substituição por outros tipos de filtros, nem a sua substituição mais cedo do que o normal.

Discordamos, uma vez que a diminuição dos set points de pressostatos para que a substituição dos filtros se faça com mais frequência beneficia os caudais de ar novo e por outro lado o custo adicional de filtros será insignificante.

 

  1. Os purificadores de ar podem ser úteis em situações específicas 

Os purificadores removem efetivamente partículas do ar, o que proporciona um efeito semelhante à ventilação. Para serem eficazes, precisam de ter, pelo menos, filtros HEPA. Infelizmente, a maioria com preços atraentes não é eficaz o suficiente. Dispositivos que usam princípios de filtragem eletrostática (não são o mesmo que ionizadores), muitas vezes, funcionam muito bem também.

Como o fluxo de ar através de purificadores de ar é limitado, a área de pavimento que eles podem efectivamente servir é normalmente muito pequena, tipicamente menos de 10m2. Se alguém decidir usar um purificador de ar (novamente: aumentar a ventilação regular muitas vezes é muito mais eficiente), recomenda-se localizar o dispositivo perto da zona de respiração. Equipamentos especiais de limpeza com lâmpadas ultravioletas a serem instalados para o tratamento do ar de insuflação também são eficazes para matar bactérias e vírus, mas esta é normalmente uma solução adequada para os equipamentos nas instalações de saúde.

Estamos ao seu dispor:

+351 229 020 219

+351 967 607 957







    X
    Em caso de litígio o consumidor pode recorrer a uma Entidade de Resolução Alternativa de Litígios de consumo:

    CICAP – Tribunal Arbitral de Consumo
    Rua Damião de Góis, 31, Loja 6, 4050-225, Porto
    +351 22 550 83 49 / +351 22 502 97 91
    cicap@cicap.pt

    Mais informações em Portal do Consumidor www.consumidor.pt